STJ reverte decisão que condenou político com base em artigo revogado da LIA

STJ reverte decisão que condenou político com base em artigo revogado da LIA

A condenação com base em genérica violação a princípios administrativos ou com base nos revogados incisos I e II do artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa (Lei 8.429/1992), sem que os fatos tipifiquem alguma das novas hipóteses previstas na sua atual redação, remete à abolição da tipicidade da conduta.

O entendimento é do ministro Paulo Sérgio Domingues, do Superior Tribunal de Justiça. Ele rejeitou pedido para condenar Cláudio Luis Cardim da Rocha, ex-presidente da Câmara de Vereadores de Conceição de Macabu (RJ) por improbidade.

O político foi condenado por suposto desrespeito aos limites de gastos fixados na Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000). O suposto ato de improbidade teria ocorrido em 2001. Com a condenação, foi proibido de contratar com o poder público pelo prazo de três anos e teve os direitos políticos suspensos. A decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Domingues julgou procedente o agravo interno interposto pelo político. Na solicitação, Rocha afirmou que as condenações ignoram que a Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece o prazo de três exercícios financeiros para que gestores públicos se amoldem aos limites de despesas com pessoal.

De acordo com o ministro do STJ, o panorama normativo da improbidade administrativa mudou com a Lei 14.230/2021. Antes dela, era considerado como ilícito o ato ou omissão que atentasse contra os princípios da administração pública de forma genérica. Os incisos listavam exemplos aplicáveis.

Em 2021, a nova Lei de Improbidade Administrativa (LIA) transformou esse trecho da lei. O artigo 11 agora exige que se aponte qual das condutas listadas nos incisos foi praticada pelo agente ímprobo. O inciso I, por sua vez, foi revogado.

Em maio deste ano, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as alterações aplicam-se aos processos anteriores à mudança, desde que não tenham transitado em julgado, tal como no caso do político do Rio de Janeiro.

“Diante deste novo cenário, a condenação com base em genérica violação a princípios administrativos ou com base nos revogados incisos I e II do artigo 11 da LIA, sem que os fatos tipifiquem alguma das novas hipóteses previstas na atual sua redação, remete à abolição da tipicidade da conduta e, assim, à improcedência dos pedidos formulados na inicial”, disse o ministro na decisão.

Segundo Fabrício Gaspar, procurador-geral do município de Duque de Caxias e sócio licenciado do Gaspar e Rodrigues Advogados Associados, escritório que patrocinou a causa, a decisão tem “profunda importância”.

“Eis que condenações por improbidade administrativa como essa que foi revertida poderiam sepultar, por inelegibilidade, a carreira pública de agentes políticos que acumulavam funções de ordenação de despesas, como prefeitos e presidentes de Câmaras e autarquias, ante a condenação por improbidade considerando a admissão de dolo genérico”, aponta.

“Corretamente, o STJ vem consolidando a jurisprudência no sentido de dar plena eficácia às alterações da lei de improbidade manejadas pela Lei 14.230/2021”, diz Gaspar.

AREsp 1.452.390

Fonte: Conjur

Leia mais

Juiz considera cobrança irregular e Amazonas Energia indenizará consumidor em R$ 10 mil

A concessionária Amazonas Energia foi condenada a cancelar uma cobrança indevida e a indenizar uma consumidora no valor de R$ 10 mil. A decisão...

Militar alcança promoção retroativa após omissão do Estado em oferecer cursos obrigatórios

Com voto decisivo do Juiz Francisco Soares de Souza, um servidor militar da Polícia Militar do Amazonas obteve perante a 4ª Turma Recursal do...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

A (i)legalidade da intimação de Elon Musk em sua própria rede social por Moraes. Entenda

A suspensão do X (antigo Twitter) no Brasil, determinada na sexta-feira (30) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo...

STJ confirma parcialidade de juíza que sugeriu investigação de pessoa não indiciada

Para o Superior Tribunal de Justiça, o juiz que oferece ao Ministério Público a oportunidade de manifestação sobre a...

STJ reverte decisão que condenou político com base em artigo revogado da LIA

A condenação com base em genérica violação a princípios administrativos ou com base nos revogados incisos I e II...

Companheira de trabalhador rural garante pensão por morte com decisão de TRF contra INSS

A companheira de um trabalhador rural falecido garantiu o direito de receber o benefício da pensão por morte. A...