“Sem memória não há Justiça”, afirma documentarista sobre a luta antimanicomial

“Sem memória não há Justiça”, afirma documentarista sobre a luta antimanicomial

O seminário é promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR). Na condução do primeiro painel, a assistente técnica do eixo de Cidadania, do Programa Fazendo Justiça (Pnud/CNJ), e integrante do grupo de trabalho do CNJ sobre o caso Ximenes Lopes, Natália Ribeiro, destacou a importância da interlocução e da troca com diferentes atores, movimentos e saberes sobre a temática.

O documentário “Holocausto brasileiro”, que mostra a história de pessoas sob custódia em hospitais psiquiátricos, foi apresentado pela jornalista Daniela Arbex, que investigou a questão. De acordo com ela, a maior parte dos casos não tinha fundamento médico e os “tratamentos” eram desumanos.

As fotos e documentos que basearam o produto audiovisual mostraram situações degradantes, com hospitais que tinham duzentas vagas, mas que chegaram a receber cinco mil pessoas na década de 1960, com utilização de procedimentos como eletrochoque e leito-chão, além de venda de cadáveres para estudos. Esse cenário influenciou o início da Reforma Psiquiátrica no final da década de 1970.

A jornalista, que participou por videoconferência, destacou que apenas em 2001 houve a aprovação da lei sobre o acolhimento adequado e humanizado às pessoas em sofrimento mental. Passados quase 22 anos, em 2023, a Lei 10.216 ainda não foi completamente implementada. “Memória e justiça caminham juntas. O documentário mostra que até hoje a lei é mal interpretada”, afirmou. Ela ressaltou ainda que a legislação trata da extinção dos leitos de baixa qualidade, e que, por conta da produção do documentário, sugeriu e propôs a revisão da política, “já que hospital não é lugar de moradia para doentes de saúde mental”.

O representante do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Marcelo Kimati Dias, e o do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Leonardo Pinho, apontaram o desafio de implantar mudanças do modelo assistencial. “Essas pessoas estão alijadas da presença do Estado Democrático de Direito. Os hospitais de custódia são prisões sem tratamento, que infringem o que está previsto pela Constituição, que proíbe a existência da prisão perpétua no país”, destacou Pinho.

A desinstitucionalização, de acordo com Marcelo Kimati, encontra similaridades tanto em relação à saúde mental de forma geral quanto na questão da execução penal. “Os manicômios judiciais enfrentam complexidades que se somam à questão da saúde mental. O envelhecimento dessa população no isolamento traz consequências clínicas que também precisam ser levadas em consideração, além de outras vulnerabilidades como a inimputabilidade por pequenos crimes e uso de drogas”, afirmou.

Nesse sentido, o desafio maior é abrir serviços substitutivos, como as residências terapêuticas, na mesma proporção do fechamento dos leitos psiquiátricos e dos hospitais de custódia. “Essa é uma população complexa, que demanda uma estratégia diferente, fundamentada nas interseccionalidades. Temos nova possibilidade de inclusão social e de trazer acesso às políticas públicas a essa população”, afirmou Kimati.  Ele acrescentou que a reinserção desses pacientes na comunidade e no contexto familiar, depois de tanto tempo sem esse vínculo, deve ser feita de forma cuidadosa e a partir da escuta pelos profissionais da saúde, que são protagonistas nesse processo.

Com informações do CNJ

Leia mais

Justiça permite atingir bens de empresas para cobrar dívida de sócio no Amazonas

A Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região manteve decisão que acolheu o incidente de desconsideração inversa da personalidade jurídica, autorizando...

STF rejeita recurso e mantém direito de sindicato a receber contribuição de oficiais de justiça no Amazonas

O Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou um recurso apresentado pelo Estado do Amazonas contra decisão do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) que reconheceu...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Entenda a estratégia da defesa de Bolsonaro para enfraquecer acusação no STF

A mobilização do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro de...

Notificação a um responsável interrompe prescrição para todos os envolvidos, diz TCU

A Primeira Câmara do Tribunal de Contas da União (TCU) firmou entendimento relevante sobre a contagem da prescrição intercorrente...

TCU afasta multa a ex-sócios por ausência de conduta individualizada no Programa Farmácia Popular

Com base na nova jurisprudência que exige a demonstração de responsabilidade subjetiva para a aplicação de sanções pessoais, o...

STJ confirma quebra de sigilo bancário e fiscal em ação de alimentos

Nenhum direito é absoluto. A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por unanimidade, manter a quebra...