Posto que quebra contrato deve devolver bonificação à distribuidora, decide Justiça do Amazonas

Posto que quebra contrato deve devolver bonificação à distribuidora, decide Justiça do Amazonas

Com decisão do Juiz Adonaid Abrantes de Souza Tavares, a 21ª Vara Cível de Manaus dirimiu conflito definindo a força vinculante dos contratos empresariais no setor de combustíveis, ao declarar a rescisão de contrato de fornecimento celebrado entre uma distribuidora nacional e um posto revendedor de combustíveis, no Amazonas, que deixou de cumprir cláusula de exclusividade.  

O caso envolve, também a cessão de marca, comodato de equipamentos e bonificação antecipada. No setor de combustíveis, onde o modelo de concessão de bandeiras e comodato de bens é a regra — e onde a fidelidade contratual é monetizada por meio de bonificações antecipadas —, a decisão mostra que a interrupção unilateral do fornecimento, mesmo sem rompimento formal do contrato, pode ser interpretada como quebra da obrigação de exclusividade, autorizando a resolução e a execução de cláusulas penais.

No caso, um contrato celebrado em 2014 entre a Distribuidora Ipiranga e o posto réu, além da aquisição exclusiva de combustíveis da marca, o uso da bandeira e o comodato de equipamentos, teriam vigência até janeiro de 2024. No entanto, conforme demonstrado nos autos, o último fornecimento realizado pela autora ocorreu em setembro de 2021, sem que o Posto réu retomasse as compras, mesmo após notificações extrajudiciais do fornecedor. 

Ao julgar o caso, o juiz Adonaid Abrantes de Souza Tavares afastou a alegação genérica de mora recíproca apresentada pela defesa. Ressaltou que os réus não apresentaram qualquer prova concreta de inadimplemento por parte da autora. Com base na documentação juntada — como contratos, notificações e comprovantes de entrega —, entendeu que os fatos constitutivos do direito da autora estavam plenamente demonstrados.

A sentença declarou rescindidos os contratos de fornecimento e de bonificação antecipada a partir de 8 de setembro de 2022, conforme cláusulas previamente pactuadas. Condenou os réus ao pagamento da multa compensatória contratual, bem como ao ressarcimento proporcional da bonificação de R$ 650 mil antecipadamente concedida, tudo a ser apurado em liquidação de sentença.

Além disso, a sentença determinou a devolução, no prazo de 30 dias após o trânsito em julgado, dos equipamentos cedidos em comodato, sob pena de multa diária de R$ 3 mil e incidência de aluguéis compensatórios, conforme cláusula do contrato. Os réus foram também condenados ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação.

Para o magistrado, a violação contratual restou evidente diante do descumprimento da cláusula de exclusividade, sem qualquer justificativa idônea, o que autoriza a aplicação das penalidades civis previstas no próprio contrato, com base nos artigos 421, 422, 475 e 408 e seguintes do Código Civil.

“A parte requerida — por não restituir os bens após o término contratual e continuar utilizando-os em benefício próprio — incidiu em inadimplemento contratual, o que justifica a incidência tanto da obrigação de devolução coercitiva quanto da indenização correspondente ao uso indevido dos equipamentos”, destacou o juiz.

A decisão reforça o entendimento de que contratos empresariais com cláusulas de exclusividade e bonificações vinculadas ao desempenho devem ser cumpridos com boa-fé e transparência. O inadimplemento unilateral, especialmente sem respaldo probatório, legitima a rescisão contratual com as respectivas consequências jurídicas previstas em lei e no pacto celebrado.

Processo n. 0631380-98.2023.8.04.0001

Leia mais

STJ valida escutas telefônicas e mantém condenação por associação ao tráfico no Alto Solimões

O Superior Tribunal de Justiça manteve a sentença de réu  condenado no Amazonas por associação para o tráfico de drogas ao negar provimento a...

Cobrança de juros abusivos causa dano moral e banco deve indenizar, define TJAM

Primeira Câmara Cível reconheceu que taxas superiores à média de mercado violam o dever de informação e configuram abuso contra o consumidor. O Tribunal de...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

Intermediadora de trabalho temporário deve calcular cota de pessoas com deficiência sobre todos os empregados

A Segunda Turma do Tribunal Superior do Trabalho decidiu que a Sé Assessoria de Recursos Humanos Ltda., de Curitiba...

STF tem maioria para reconhecer racismo estrutural no país

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria de votos nessa quinta-feira (27) para reconhecer a existência do racismo estrutural...

PL suspende atividades partidárias e salário de Bolsonaro

O Partido Liberal divulgou, nessa quinta-feira (27), que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve suas funções partidárias suspensas e também deixou...

Zanin autoriza julgar ação que acusa deputados do PL de corrupção

O ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou nessa quinta-feira (27) para julgamento a ação penal na...