Mensagens trocadas entre procuradores da extinta “lava jato” de Curitiba indicam que o ex-juiz Sergio Moro pressionou o Ministério Público Federal para que o órgão pedisse a extradição de um executivo da Odebrecht que estava preso na Suíça. A informação é do colunista Jamil Chade, do UOL.
A conversa envolveu Fernando Magliaccio, preso em Genebra em fevereiro de 2016. No final do mesmo ano, ele retornou ao Brasil e fechou um acordo de delação premiada, tornando-se peça importante do que viriam a se tornar denúncias e condenações contra autoridades.
“Você se lembra que eu já solicitei a extradição do Magliaccio? Eu fiz isso por causa do pedido do juiz. O Sergio Moro estava me pressionando a fazer isso. Você acha que o pedido de extradição tem algum efeito em nosso pedido de MLAT (Tratado de Assistência Legal Mútua) para ouvi-lo lá na Suíça? Se sim, talvez possamos suspendê-lo, mas apenas por um curto período”, disse o procurador Orlando Martello em 17 de março de 2016.
Dias antes, em 9 de março de 2016, o procurador suíço Stefan Lenz, que colaborava clandestinamente com integrantes da “lava jato”, falou em um grupo de procuradores de Curitiba sobre o caso.
“Temos provas (emails apreendidos) de que Marcelo (Odebrecht) está diretamente envolvido e deu ordens a Fernando (Magliaccio) para fazer pagamentos ilícitos”, disse.
“Vocês devem fazer um (pedido de) assistência Mútua Legal para interrogá-lo na Suíça e ter acesso a todos os dados que apreendemos”, sugeriu o procurador suíço. “Discutiremos isso o mais rápido possível”, concluiu.
Cerca de duas horas depois, Martello responde: “Olá Stefan, está pronto. Ele (o pedido) será traduzido hoje com urgência. Eu o envio com antecedência para você.”
A prisão e colaboração de Magliaccio é um ponto de transição importante para os procuradores. Por meio do executivo, apontado como um dos responsáveis pelo departamento de “operações estruturadas da Odebrecht”, a “lava jato” processou políticos de diferentes países que supostamente estariam envolvidos em recebimentos de propina.
As suspeitas de encontros informais com integrantes da “lava jato” foram um dos fatores que antecederam a demissão de Stefan Lenz.
Responsável até 2016 pelas investigações da “lava jato” na Suíça, Lenz tentava fechar um acordo de cooperação bilateral entre os países.
Ele aparece em diversas conversas, em muitas delas colaborando clandestinamente com os procuradores brasileiros, sem que documentos enviados e encontros passassem pelo DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional”, órgão ligado ao Ministério da Justiça que é o responsável por cooperações internacionais.
Com informações do Conjur