A proposta de reforma do Código Civil brasileiro, em vigor desde 2002, promete ser o centro de intensas deliberações no Congresso Nacional a partir do próximo mês. A iniciativa legislativa, que resulta do trabalho de uma comissão de juristas presidida pelo Ministro Luis Felipe Salomão, apresenta 242 novos artigos e promove 840 alterações em dispositivos já existentes.
Entre os destaques da proposta está a inclusão de mais de 80 dispositivos voltados para o Direito Digital, um tema emergente que tem gerado ampla discussão tanto no meio jurídico quanto na sociedade. Os artigos abordam aspectos como contratos eletrônicos, heranças digitais e a regulamentação de criptoativos. Segundo o Ministro Salomão, a modernização visa “garantir segurança jurídica e acompanhar as transformações sociais e econômicas”.
Outro ponto sensível da proposta envolve alterações no Direito de Família. Apesar dos avanços reconhecidos pela sociedade e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu favoravelmente ao casamento homoafetivo em 2011, o tema enfrenta resistências no Congresso Nacional. Parte significativa dessas objeções advém de grupos com pautas conservadoras que defendem a exclusão do casamento homoafetivo de uma regulamentação expressa no Código Civil.
Especialistas alertam que a omissão legislativa em relação ao casamento homoafetivo perpetua insegurança jurídica, mesmo após mais de uma década de jurisprudência favorável. “Um avanço normativo é essencial para harmonizar o entendimento judicial com as disposições legais e fortalecer a proteção aos direitos fundamentais”, ressaltou o ministro.
A inclusão de novas disposições, sobretudo aquelas relativas à tecnologia e à família, suscita amplos debates em torno do papel do direito em adaptar-se à dinâmica da sociedade contemporânea, buscando ao mesmo tempo preservar princípios fundamentais e garantir maior clareza normativa.