Denúncias de violência obstétrica em Tabatinga-AM são apuradas

Denúncias de violência obstétrica em Tabatinga-AM são apuradas

O Polo da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM), em Tabatinga, realizou inspeção em uma maternidade do município para apurar denúncias de violência obstétrica. Ao confirmar falhas no atendimento prestado a pacientes, a Defensoria expediu uma recomendação com 13 condutas a serem adequadas pela maternidade para garantir atendimento de qualidade à população.

A iniciativa foi motivada por reclamações de pacientes, acompanhantes e parentes sobre maus-tratos e relatos de casos de violência obstétrica por parte dos funcionários da maternidade. As defensoras públicas Thatiana Borges e Jéssica Cristina Matos realizaram uma inspeção na Maternidade em maio deste ano. A visita foi acompanhada pelo diretor clínico da instituição, do diretor administrativo do hospital e de uma assistente social.

Durante a inspeção, a equipe do Polo do Alto Solimões constatou falhas estruturais, tais como; ausência de recepção própria para maternidade não tendo um espaço para acolhida das gestantes que tem de esperar até iniciar o trabalho de parto; ausência de ventilação (ar condicionado ou ventiladores em algumas salas) e ausência de ouvidoria para receber as reclamações e tomar providências.

Foi constatado que havia apenas um livro para registro de reclamações, mas sem finalidade posterior como, por exemplo, eventual instauração de procedimento administrativo contra o servidor que não realizou o serviço como deveria. A DPE-AM verificou também que há poucos profissionais de saúde, havendo eventual sobrecarga de trabalho e ausência de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A recomendação foi expedida em julho de 2021. Entre as indicações estão a realização de cursos de reciclagem e, principalmente, de cursos de atendimento humanizado para os funcionários; promoção de reuniões frequentes para debater os protocolos de segurança do paciente, a fim de reduzir casos de violência obstétrica e a instauração de ouvidoria. Os defensores também recomendaram a adoção de procedimento administrativo para apurar eventuais condutas dos profissionais.

O Polo Alto Solimões ainda recomendou o incentivo ao bom atendimento na unidade, com a inserção de quadro de elogios, avaliação dos funcionários por meio de folders a serem distribuídos de forma visível, recolhidos e avaliados com frequência.

Segundo a defensora pública Jéssica Cristina Matos, algumas medidas podem ser cumpridas de maneira imediata, a fim de garantir um bom atendimento. “Muito se pensou sobre como fazer uma recomendação que seja possível e plausível de ser cumprida, sem que dependa de muito esforço financeiro e, sim, de mais força de vontade, pois o que mais queremos é que haja um bom atendimento à população o mais breve possível. E que as condutas que precisam ser ajustadas, mas que dependam de investimento financeiro, com o tempo, sejam adequadas, mas sem que todo o bom funcionamento dependa disso”, disse a defensora.

A DPE-AM solicita ainda, do Estado do Amazonas, a seleção e contratação de mais profissionais como ginecologistas, pediatras, técnicos de enfermagem, uma vez que o quadro é insuficiente para a demanda local. Em relação à estrutura, a DPE- AM propõe a criação de recepção própria para a maternidade ou um espaço de acolhida apenas para as gestantes.

Na recomendação, o Polo do Alto Solimões solicitou a utilização do protocolo de Manchester – método de triagem que classifica pacientes através de pulseiras de diferentes cores e de acordo com a prioridade de atendimento, já que os pacientes da maternidade de Tabatinga reclamam de demora no atendimento e de pessoas que furam fila. O hospital e a maternidade relatam que não há pessoas que furam fila, mas que têm prioridade no atendimento de acordo com a gravidade da demanda, tendo que esperar menos tempo mesmo chegando depois. Para a Defensoria, a adoção de pulseiras indicando a cor com a classificação de cada paciente poderia minimizar o mal entendido.

“Esperamos que as recomendações sejam adotadas e pedimos um prazo de 30 dias para nos responderem já que foram muitas recomendações e algumas demandam um certo investimento financeiro, mas estamos confiantes que haverá mudanças positivas no atendimento da maternidade”, concluiu a defensora Jéssica.

O que é violência obstétrica?

O termo se refere a todo ato praticado por profissionais de saúde que ofenda de forma verbal, psicológica ou física mulheres gestantes, seja no pré-natal, no trabalho de parto, pós-parto/puerpério e abortamento. Casos de violência obstétrica podem envolver mortes de gestantes ou bebês e impacta negativamente na qualidade de vida das mulheres, ocasionando abalos emocionais, traumas, depressão e dificuldades na vida sexual, entre outros. Essas práticas são consideradas atos ilícitos passíveis de responsabilização dos profissionais envolvidos.

Fonte: Asscom DPE-AM

Leia mais

Travel Tech deve indenizar por falhas na prestação de serviço da Hurbes

Mesmo quando os fatos são presumidos verdadeiros devido à revelia, o juiz deve manter a responsabilidade de aplicar a norma legal em harmonia com...

Ex-dono de veículo não deve ser responsabilizado por débitos mesmo sem transferência, decide TJAM

Segundo o artigo 1.267 do Código Civil brasileiro, a transferência do domínio de um bem móvel, como um veículo automotor, ocorre por meio da...

Mais Lidas

Justiça do Amazonas garante o direito de mulher permanecer com o nome de casada após divórcio

O desembargador Flávio Humberto Pascarelli, da 3ª Câmara Cível...

Bemol é condenada por venda de mercadoria com vícios ocultos em Manaus

O Juiz George Hamilton Lins Barroso, da 22ª Vara...

Destaques

Últimas

STJ mantém prisão de funcionário da Latam acusado de ajudar traficantes em cocaína para a Europa

A presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Maria Thereza de Assis Moura, manteve a prisão preventiva de...

Governo impõe atualização cadastral e fixa prazos para beneficiários de Benefícios se regularizarem

O governo federal publicou nesta sexta-feira (26) novos prazos para a atualização cadastral do Benefício de Prestação Continuada (BPC)....

Confederação de servidores questiona no STF regra de cálculo da previdência estadual em MG

A Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) questiona no Supremo Tribunal Federal (STF) a regra de cálculo fixada...

Travel Tech deve indenizar por falhas na prestação de serviço da Hurbes

Mesmo quando os fatos são presumidos verdadeiros devido à revelia, o juiz deve manter a responsabilidade de aplicar a...