Trabalho, esforço e dedicação. Essas palavras resumem o trabalho das equipes do Supremo Tribunal Federal após o cenário de devastação deixado pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Os profissionais atuaram prontamente para viabilizar a retomada das atividades na Casa e recuperar objetos e ambientes danificados na invasão.
Patrimônio cultural
Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2007, o edifício-sede do Supremo é um dos cartões postais de Brasília, cidade declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1987. O prédio principal é parte do conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer para a Praça dos Três Poderes.
Força-tarefa
Logo após o atentado e da perícia nos locais atingidos, as equipes de limpeza, arquitetura, conservação e restauração, entre outras, iniciaram imediatamente os trabalhos de recuperação do Plenário. A força-tarefa foi necessária para viabilizar a abertura do Ano Judiciário, em 1º de fevereiro do ano passado.
Foi uma corrida contra o tempo para restaurar mobiliário e outros itens do local. Os serviços começaram com os objetos localizados no térreo, onde estão o Plenário, o Salão Branco e o Hall dos Bustos.
Pontos de memória
Alguns objetos permaneceram, propositalmente, sem restauração. Como forma de documentar e proporcionar a reflexão sobre a gravidade do atentado, o STF criou pontos de memórias com as marcas da violência. O objetivo é que os fatos vivenciados sejam parte da memória institucional do Supremo, para que o episódio jamais seja esquecido tampouco se repita.
Campanha
Ainda em janeiro de 2023 foi criada a campanha #DemocraciaInabalada, com peças publicitárias veiculadas em canais de televisão e na internet e postagens nas redes sociais do Tribunal. Em agosto, foram lançados um documentário e um livro sobre o tema, disponíveis neste link. Desde maio, o Museu Ministro Sepúlveda Pertence também abriga uma instalação com imagens e vídeos com registros da destruição.
Restauração
Os itens do acervo histórico e artístico danificados foram recuperados pelo Laboratório de Restauro do STF. Logo após a perícia, a equipe de restauradores realizou um salvamento inicial das peças, para interromper a deterioração causada pela exposição à água, ao pó dos extintores de incêndio e à luminosidade inadequada. Também foram recolhidos e separados fragmentos das obras.
A restauração envolveu obras de arte, mobiliário, presentes de chefes de Estado estrangeiros e objetos em geral. Entre as peças restauradas estão itens simbólicos do acervo, como o Brasão da República, a escultura em bronze “A Justiça”, de Alfredo Ceschiatti e o quadro “Os Bandeirantes de Ontem e de Hoje”, do artista plástico Massanori Uragami.
As etapas seguintes abrangeram o Salão Nobre, os gabinetes da Presidência e da Diretoria-Geral e outras áreas do prédio principal.
Prejuízos
Apesar dos esforços da equipe de restauradores, alguns itens e objetos não puderam ser recuperados. A destruição gerou prejuízo de mais de R$ 8,6 milhões, com 951 itens furtados, quebrados ou completamente destruídos.
Já a despesa para a reconstrução do Plenário, com troca de carpetes, cortinas e outros objetos, foi de mais de R$ 3,4 milhões, totalizando cerca de R$ 12 milhões em prejuízo para os cofres públicos.
Vale lembrar que os itens com natureza de patrimônio cultural são de valor inestimável.
Balanço
Até o momento foram restaurados 116 itens do acervo do Tribunal: 22 esculturas (bustos, estatuetas, itens do Plenário e a estátua “A Justiça” da Praça dos Três Poderes); 21 telas e tapeçarias; quatro galerias de retratos (Galeria de Ministros, de Presidentes, de Diretores-Gerais e Secretários-Gerais); 19 objetos (lustres, Brasão da República, vasos); e 50 itens de mobiliário (cadeiras, mesas, móvel expositor da Constituição, etc.).
A restauração de três espelhos e nove cadeiras ainda não foi concluída, porque dependem de material específico que está sendo adquirido. Também foi necessário substituir quatro obras do fotógrafo Sebastião Salgado.
Outros 15 itens, entre vasos e mobiliários, que sofreram maiores avarias, estão sendo avaliados para definição da técnica mais apropriada e do material necessário.
Foram perdidos 106 itens históricos de valor imensurável, como esculturas e móveis que não puderam ser restaurados e não podem ser repostos.
Desafios
Quem participou da reconstrução do STF foi o servidor Hygor Parreira Araújo, da Coordenadoria de Arquitetura, Engenharia e Manutenção do STF. Segundo ele, o maior desafio foi o tempo. “Foram apenas três semanas para executarmos toda a restauração necessária”, relembra. “Nossas equipes trabalharam incansavelmente, inclusive aos finais de semana, para assegurar a sessão de abertura do ano judiciário”.
De acordo com o gestor, a restauração foi um marco na preservação da memória institucional do STF. “Esse emblemático prédio histórico faz parte dos três pilares da República brasileira, e sua restauração remonta o espírito da democracia”.
Com informações do STF